Dia 6 'Strangers in the night'

Olá semelhantes!


Cada vez sou mais eu nesta casa... Portanto hoje foi o dia de ser mau feitio!
Nem sei bem como vos dizer.. Eu não sou lá muito crédula mas.. o que é certo é que para não agoirar não vos falei antes que hoje era eu a verdadeira responsável pelo almoço! O meu problema não era cozinhar. Como vocês sabem eu tenho passado quase todos os dias um tempinho na cozinha. Não só porque gosto de ajudar mas por interesse, obviamente. :) Com o que fui aprendendo com o povo nestes dias, tinha a certeza que quando chegasse a minha vez iria estar bem mais tranquila se soubesse quantidades e o lugar de todas as coisas.

Cozinhar para 15? Piece of cake! (em português Canja laranja!:) Quem era o meu auxiliar?
O Catalin.
Desde o momento que a tabela foi afixada na parede que eu só conseguia pensar.
POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORQUÊ?..
O Catalin para além de ter um aspecto exótico raramente fala inglês. Ele é Romeno, man!

Não sei se já vos disse.. mas nunca será demais repetir. Ouvir uma conversa em romeno é como ouvir um carneiro a rezar o terço! Parecem mesmo carneiros..

Este em especial tem uma maneira de ser e estar muito própria. Não socializa como o resto do grupo. Sempre que pode vai pastar. Nunca o tinha visto sorrir. Ele não é amável.. é o Catalin. É educado e respeitado pelo grupo mas não finge ser o que não é para agradar. Não tenho nada contra.. mas ele é o CATALIN! E que raio pode significar Catalin? Nem isso sei, credo.
Vi-o na sala de estar depois do pequeno almoço e tentei passar completamente despercebida.. assim que entrei no Zimbabwe ele apareceu atrás de mim e falou e eu percebi-o.
Pediu-me para cozinhar eu o frango porque ele nunca o tinha feito e que ele faria o puré.
E eu.. abanei a cabeça. Não queria dizer nada que o aborrecesse. Ele foi para a despensa e imaginem.. Chamou o meu nome. Foi como ouvir uma palavra na nossa língua que nos é familiar mas que já não ouviamos há muito tempo. Eu fui tipo cão, não a correr, de rabinho entre as pernas.
Pediu-me para não fazer o frango frito como era pedido no menu. Porque anda com dores de estômago.
Eu logo vi que aquela cara fechada só podiam ser gases -.-'
E eu? Que pergunta.. Ninguém quer quer aborrecer o Adamastor.. logo agora que passára de tormenta a esperança.

Deviam ter visto.. Ele deixou de ser carneiro e eu passei a suricata. Sempre alerta!
Entretanto, distrai-me e perguntei-lhe se tinha temperado a água das batatas. Então uma sombra surge sobre mim.. ele avança na minha direcção põe as mãos nos meus ombros e diz: Relaxa. Já fiz outras vezes.
Ainda agora me custa pensar de como me senti. Pensei mesmo que ia levar um murro na cabeça.
Entretanto, perguntou-me o que poderia fazer mais. Se, SE, SE-E, SE-E-E-E quiseres podes preparar uma salada. Ele fez uma salgalhada que não consigo descrever. E eu só conseguia pensar que estava entretido podia piscar os olhos.

Liguei o rádio e foi um arregaçar de mangas e ver se te avias.
O botão do volume do rádio não funciona. Assim sendo, a música na cozinha só tem um estado: ALTO.

O dia até me estava a correr bem quando ele voltou da varanda e se chegou muuuuuito perto e passou o dedo na minha cara.
Catalin: Tinhas a cara suja! - e sorriu.
Eu só acreditei quando passei pertinho do espelho. Só imaginava que ele tinha feito exactamente o contrário. Tinha o dedo sujo e me tinha sujado. Cá nada! Estava limpa.
Deixou-se ficar ao meu lado e ajudou-me a terminar de preparar os legumes para a sopa. Eu só cantava.. parecia que estava em transe.

Servimos o almoço. E toda a gente nos deu os parabéns. Eu animada com o cheirinho a casa que a sopa estava a deixar no ar quase não provei o frango. Mas estava feliz. Eu e o Adamastor.

3 coisas que não posso esquecer da próxima vez: fechar as portas da storage, verificar se os frigorificos ficaram realmente fechados e deitar fora o que está no frigorifico a fazer 24h que foi cozinhado.

Depois de arrumarmos o Zimbabwe, pegou-me o mau feitio e fui até ao quarto. Mas é realmente entediante se estiver aqui e fizer algo que poderia fazer exactamente da mesma forma noutro sítio qualquer. Portanto fui limpar o Congo! Todos sujam mas eu uso. E gosto de saber que posso confiar.
Portanto, pedi ajuda ao Ion para consertar o banco do chuveiro que alguém partiu esta manahã antes de eu ter acordado e quando a madeira partiu deve ter achado que se peidou sómente.
Esfreguei tudo de alto a baixo, deitei à confiança algumas embalagens fora e ficou limpo e cheiroso.

Tinha ainda comigo a chave da storage que passa apenas de responsável em responsável. Foi procurar o Norbi para passar o testemunho.. O Norbi perde tudo portanto como até gosto do menino guardei até as 5pm para que ele não a perdesse entretanto.
Não vos falei deste handicap do Norbi? O mocinho tem uma memória muito selectiva.. por estrear!
Ele é capaz de ir à Mauritânea fazer uma caneca de chá pousar cá fora no banco atrás de si. Entrar novamente na Mauritânea e trazer uma caneca de chá do mesmo sabor! Como ele diria: Ôpa.. Again.
Este rapaz é uma joiiinha. Está a ensinar-me húngaro como moeda de troca pelas lições de português.
Está desde sexta-feira a lixar as escadas.. Tudo rende com este rapaz. Eu já pensei que talvez ele se esqueça, por vezes, do que está a fazer sentado no meio das escadas. Mas é tranquilo e não entra em pânico! Toda os rapazes gostam de o indicar como exemplo de O-que-não-se-deve-fazer.
E isso irrita-me. Mas o que me irrita mesmo é ficar calada. Portanto hoje aproveitei a presença do meu mau feitio e dei-lhes uma corrida. O José, o Teo e o Peter tão cedo não abrem a boca para falar da pobre alma.

A preparar o jantar estiveram 4homens.. Parecia um comíssio!
Comida típica da Dinamarca feita por um dinamarquês com uma CCNT (Cena Chunga Na Tola), e 2 húngaros. O 4º era só para atrapalhar.. Como é que ninguém percebeu a tempo?
A comida era boa.. dentro do género.
Tentem imaginar: salsicha, pimento vermelho, verde e amarelo, gengibre, ananás, ervilhas, milho e alho francês (entre outras coisas) com molho de tomate. Estão acompanhar até aqui?
O milagre está no tempero... Açúcar! DEUMELIBRE!

Hoje chegou mais um húngaro.. A vida corre-me bem é verdade.
O nome é indiferente... é hún-ga-ro! Eu sei dizer o nome (tchóvi) só não sei escrever ( x).
Ele sim, só agora chegou e já tem uma história incrivel para contar! Estive a ouvi-lo e tentar conter as lágrimas porque o homem estava mesmo chateado. Mas acabou por se rir comigo da situação porque é mesmo hilariante.

Está bem eu conto.

Bem a viagem dele começou em Budapeste. Foi em Budapeste que comprou o bilhete que usaria no comboio em Hamburgo o qual tinha pensado para dia 24 de Junho mas que decidiu à ultima da hora que iria apenas dia 25, pois iria visitar um amigo. Chegou a estação de Hamburgo e como estava já muito próxima a hora de partida ficou à espera do comboio. O relógio apontava 5pm e nada de comboio. Só aí se lembrou que tinha alterado a data. Ligou para o amigo e foi até casa dele. À noite colocou o relógio para despertar cedo o suficiente para que conseguisse chegar a estação a tempo. Foi acordado, na manhã seguinte, pelo amigo a perguntar-lhe se não estaria atrasado para o comboio.
A: Que horas são?
B: 5.45
A: Não pode ser. Eu tenho a certeza de ter accionado o despertador do telemóvel. Onde está o meu telemóvel? Estava mesmo aqui no chão ao lado do colchão.
Estava o cão do amigo a roê-lo no centro da sala. Sim, roer. Não funciona mais aquele.
Foram até à estação de comboio e ele explicou a situação à sr da bilheteira:
A: (...) O que posso fazer agora?
B: Pode deitar o bilhete fora ou guardá-lo como recordação.
Como é um bilhete barato não tem direito a reembolso.
A: Seja. Dê-me outro.

Saiu Berlim à boleia para sítio*(não sei escrever nem dizer), através daqueles sites onde se combina boleia com alguém que vai na mesma direcção e tem espaço de sobra no carro. A pessoa que o devia ir buscar atrasou-se 5h. Mas como não sabia mais onde ir, ficou ali mesmo à espera.
Chegou ao sítio* mesmo na hora do autocarro para Holsted.
Durante a viagem o autocarro parou uma vez para descansarem e ele foi ao WC quando voltou o autocarro não estava lá. Quando já via a vida negra como a noite viu o autocarro parado a uns bons 250metros. Correu até lá e pediu responsabilidades ao motorista que negou qualquer culpa. Horários são para ser cumpridos e ele a X hora tinha de estar naquela paragem.
Assim que saiu em Holsted, perto da estação dos comboios a 3Km daqui não tinha forma de contactar a escola. Estava sem telemóvel portanto teve de contar a sua triste história na estação para que o deixassem ligar para a escola. Deixaram. Ligou e o atendimento automático teve o prazer de lhe dizer que o número não existia. Portanto.. ou vinha a pé ou vinha a pé. Razoável que é.. pediu indicações para chegar cá e carregou toda a sua bagagem pelos longos 3Km até a escola.
 No fim disso encontrou o tesouro. EU :)

Eu só acabei de escrever este dia hoje (1 de julho). Como já disse aqui as portas estão sempre todas abertas. Estava eu a escrever-vos e pareceu-me ouvir a beterem a porta. Mas aqui ninguem bate a porta. Quem pode entra. Quem não pode não entra. Simples. Então, de repente entraram 2 pessoas pela casa dentro e vieram até a sala porque viram luz. Normal, 3am. Tudo a dormir e entram 2estranhos pela casa dentro e vem-me pedir para dormir nos puffs.
Eu até falei em português.. Fiquei mesmo mesmo atarantada. E eles também porque não perceberam uma palavra do que eu disse. O Teo estava a dormir no sofá e não deu fé de nada. Eles disseram que conheciam o Antal e que ele só os esperava amanhã. Chegaram bem mais cedo do que esperavam e queriam que os deixasse dormir.
Eu sem saber o que fazer.. nesta terra tudo é possivel. Eu, que nem se quer sabia onde era o quarto do Antal, disse que o iria procurar. Subi até ao meu quarto e acordei a Cristiana para perguntar como chegar até ao Antal. Ela abriu os olhos e respondeu-me em ROMENO. Nice!
Voltei à sala e o Teo já estava a pé a conversar com eles. O Teo, tal como os outros internos, não pode subir as escadas. Portanto explicou-me como lá chegar. Era bom se fosse uma hora mais tarde pois assim já teria luz suficiente para ver os nomes nas portas. Fui aos apalpões e quando encontrei bati com muito carinho na porta pois sabia que ele ia ficar puto da vida.
Pronto, depois fui para a cama.. 4am e o quarto cheiiiinho de luz até ao tecto. Perfeito!