20.8.11

FTC Mode


E restam-me dois meses nesta terra que me fez crescer mais do que eu jamais imaginei.
Mudo imenso... Várias vezes... E gosto. Reinvento-me dentro do mesmo corpo, das mesmas roupas.
Faço por viver todos os dias uma vida, sendo sempre eu mesma.
Tenho raízes que me prendem a este chão que me pedem para ficar... mas os meus ramos sonham com novos horizontes... Deixarei aqui os meus frutos e a minha semente... Mas eu nunca pertenci ao chão...
Sou pássaro... e as minhas asas são a minha alma.

Estou a viver.

Sophius Regus Canalis Manyatus Pdmius Pegius

3.8.11

Desabafo

Ontem, recebi a notícia que não queria, que não deveria receber...
A companhia aérea não me deixa alterar o meu bilhete de avião, de maneira alguma.
Os meus planos de repente tornaram-se em pó.
Pó que me entrou nos olhos e os tornou tão secos que nem uma lágrima saiu.
Senti-me completamente derrotada. Fraca demais para me levantar da cadeira...
Fiquei vazia.
Lembram-se que vos contei que no fim da minha missão em Moçambique iria cruzar o país (1350km) até ao Sul do Malawi, para me encontrar com o homem que tanto espero. E assim ficar com ele e continuar a trabalhar até ao fim do projecto dele. Para acabar com esta loucura de vivermos longe um do outro, que foi decisão minha em Janeiro.
Ele apoiou-me no meu projecto de rumar sozinha até Moçambique, e é chegada a hora de o compensar por todo este tempo de apoio incondicional.
Há meses que ando a conjugar todos os pormenores, que nos levariam um ao outro.

Ontem recebi a notícia que impede tudo isso.
O bilhete de avião não pode ser alterado.
Pus em causa tudo...
Até que ponto vale a pena fazer o bem, de que vale afinal ser voluntário neste mundo em que tudo se move por dinheiro.
Eu não gosto de dinheiro, não entendo esta necessidade de tudo se mover com dinheiro.
Aqui... Os que cá chegam e vivem o que eu vivo diariamente, ficam a perceber que não há dinheiro que os americanos, europeus, asiáticos possam enviar para cá desde as suas límpidas vidas, que se compare ao trabalho de um voluntário que dá o corpo e a alma in loco!
Um voluntário não recebe dinheiro... e é isso que me move aqui. A ausência de dinheiro.
A vida acontece sem dinheiro. O trabalho que fazemos proporciona-nos o que precisamos para viver.
E dinheiro não é uma dessas necessidades. Mas ainda falta um passo de gigante para  mundo perceber isto.
Eu não quero dinheiro, o que preciso é de um bilhete de avião para regressar a casa no fim do meu trabalho.
E ontem recebi uma chapada para me relembrar que nasci branca, num mundo capitalista que coloca cifrão no final das frases, onde deveria estar o ponto final.

A mesma, com os olhos sujos de poeira

Daniela

31.7.11

Moamba, aquela bela província!

Parte I


Moamba, 18 de Julho a 28 de Agosto

A viagem:
70 pessoas em 2 autocarros com capacidade de 25 cada! Correu bem... Ninguém esperava viajar no conforto. E durante uma hora e pouco viajamos desde Machava até à Moamba, 50km em direcção ao interior, entre vários cânticos e gargalhadas.
E finalmente, dei de caras com o verdadeiro estilo de vida Moçambicano.
Há uma vida bem diferente aqui.
Tudo é diferente.
Os primeiros dias foram de absorção total. Tudo me espantava, apetecia-me tirar fotos de tudo e mais alguma coisa. Queria ser capaz de guardar uma imagem do que estou a viver.
As casas feitas em ‘matope’ e palhinha, as estradas de terra batida, as crianças a correr pelas ruas ora a transportar água e alimentos, ora a transportar uma outra criança às costas.
Todos super simpáticos, e todos querem tocar na pele da branca e nos cabelos da branca.
Querem ouvir a minha voz, o meu português.
Conheci também o estilo de vida dos meus alunos. Pois bem, quando cá cheguei deram-me a escolher entre ficar num quarto sozinha ou com as minhas alunas. Sendo que para eu ficar num quarto sozinha elas teriam de preencher mais os outros quartos.
Cada quarto tem 12 camas (em beliche) feitas de cimento, com umas esponjas que já viveram tempo demasiado, só de tocar ‘esfarelam’. Com uma mesinha na cabeceira e 4 gavetões no chão.
Então eu obviamente escolhi ficar com elas.
Para começar reparei que vinha muito mal apetrechada. Elas traziam baldes, almofadas, lençóis, mantas e bolachas, muitas bolachas. E eu trouxe roupa, produtos de higiene pessoal e o meu querido saco cama. Á medida que o primeiro dia foi passando, fui-me apercebendo de como estava bem enrascada.
Já depois do jantar, uma aluna, a Ana Paula, veio ter comigo com um lençol na mão, a dizer que eu não devia deitar-me naquele colchão. E elas nunca tinham visto um saco cama, nem sabiam bem como funcionava ao certo. Eu bem tentei explicar que se dorme dentro, mas para elas não fazia muito sentido e só queriam ver-me mesmo a dormir assim.
Para começar, a água da escola não é potável… eles chamam-lhe salubre, quando o que querem dizer é salgada. Portanto, no primeiro lanche os miúdos fizeram o sumo com essa água. Tinha um sabor que não consigo explicar. Não que fosse mal saborosa, simplesmente não era nem doce nem salgada. Era um sabor que nunca senti na vida. Depois de beber o sumo e comer pão com Jamo (geleia) vim a saber que aquela água era tal que não se devia beber.
Água que é racionada. Só abrem às 5.30 e ‘à tarde’… E mesmo nessas horas é preciso procurar bem quais são as torneiras onde está a sair água.. Aqui entra a parte dos baldes.
Na casa de banho não há água, só nessas torneiras que estão espalhadas pelo terreno da escola. Portanto, nós precisamos de transportar a água até à casa de banho e usar quer para ‘descarregar o autoclismo’, quer para tomar banho.
Se é para a sanita, mal o menos. Mas quando é para tomar banho, ai, ai, ai… É preciso escolher bem a torneira. Há a torneira do tanque que para ser sincera nunca me foi apresentada, e as outras. Da torneira do tanque sai água fria ‘de verdade’ e das outras sai água fria, ok, se for a meio da tarde está quase morna.
Experiência para a vida é acordar ir buscar um balde de água e ir tomar banho… Acho que nunca acordei tão rápido, fiquei desperta em 2 ou 3 canecas de água pela cabeça a baixo, cada caneca acompanhada de um guincho, pois está claro.
Prova do banho – superada! Já quase não guincho.
Agora olhando com olhos de ver… A questão da higiene tem muito mais o que se lhe diga. Quando não existe água para beber, quando temos de pensar em quanta água precisamos para o banho, quando temos de procurar água sempre que precisamos ir à casa de banho, não é tão simples assegurar a higiene.
Tivemos que começar a comprar água ‘doce’, 5Meticais cada bidão de 20litros, comprada aos vizinhos. Bidões que são transportados à cabeça pelas minha alunas.
AluNAS! Porque homem africano não transporta água ou pão. É falta de virilidade inquestionável.
Mesmo esta água doce não devia ser bebida sem ser desinfectada e purificada. Mas nos usamos perto de uns 100 a 120litros por dia, e não há tempo para o tratamento.
De modo que usamos para cozinhar e beber assim mesmo. Nos primeiros dias andamos com diarreia e com dores abdominais, mas agora parece que o organismo de cada um já se habituou.
Nota: Diarreia e necessidade de carregar água para a casa de banho sempre que necessário é uma missão praticamente impossível.
D.Jaque na prática :)

(to be continued...)

Cenas dos próximos capítulos:
Grávida na beira da estrada
Baratas
Histórias de vida delas
História de vida dos homens que conheci cá
Cicatrizes
Emergência hospitalar

11.7.11

oláááá

Que mulher sou eu que desapareço quase um mês?
Pois é, sou uma desgraça... mas vocês perdoam-me que eu sei..
Por cá muita coisa boa e alguma más também...
 Más? Se há coisas más aqui é o frio!
Deus me livre que frio se põe à noite...
E não me venham com coisas que África e frio não entram na mesma história.
Pois é... Eu sou a testemunha viva que sim!
Faz frio sim, senhor!
E muito... Já todos fechamos as janelas do quarto e dormimos de camisolão....
Que isto a partir das 22.00 é o frio a entrar pela roupa dentro.

Mais...
Faleceu a mãe da Mama Elsa, a nossa empregada doméstica da Savana.
Foi muito triste ver a Mama a chorar... nunca pensei que me custasse tanto.
A mãe já estava doente faz muito tempo e era bem velhinha já.
Não resistiu mais e faleceu há 2 semanas.
Fui ao funeral e inexplicavelmente ou por diversas razões... perdi os sentidos.
Não foi agradável, não senhor. Valeu o susto.
Fui à clínica ter uma conversinha com a médica a qual após exame de sangue e urina me informou que a minha infecção urinária tinha vindo para ficar e que estava 'bem feia'... fungos, bactérias e cenas que ninguém quer e eu coleccionei.
Portanto deu-me antibiótico para a bicheza e mandou-me comprar lixívia e desinfectar eu mesma a nossa casa-de-banho.
E eu.. Sim chefe!
Após o tratamento fui lá para novos testes e a bicheza já era... Agora permanece uma infecção na bexiga. Mais uns anti-inflamatórios e amanhã é dia de novo check-up.
A ver vamos. =)

Coisas boas... ui tantas!
Bem, vi o meu primeiro camaleão... mesmo aqui à porta de casa.
A Mama Elsa veio-me tirar da cama para o ir cumprimentar.
Fiquei uma boa meia hora a observá-lo. Quando tirava fotos ele fazia de conta que nada se passava...
Assim que começava a filmar, o moço parava. Mas quando digo parava... é literalmente parava. Nada... Nem os olhinhos.
Portanto fiz dois vídeos que são fotos com vários minutos. =)

Depois entrancei o meu cabelo, com mecha! Portanto fiquei com cabelo até ao fundo das costas.
Foram 12horas a entraçar e adorei o resultado.
O meu couro cabeludo é que nem por isso portanto ao fim de 12 dias tive 3 horas para desfazer. Valeu a experiência. Obrigada Wilma pelas horas e trabalho impecável.

O Sr. Csabi Arvai conseguiu de um outro voluntário que voltou já para a Europa uma pen de internet wireless. O que parecendo que não ajudou imenso a comunicarmo-nos ainda melhor.
Uma vez por semana (no mínimo:) largamos o resto do mundo e falamos até se esgotar o abecedário.
 De hoje a 100 dias chego ao Malawi =)
Não é emocionante?
Pois, decisões tomadas... no final do meu projecto vou para o Malawi por um mês, ou seja, até o Csabi acabar o projecto dele e depois vamos juntos para a Dinamarca.
Parece-vos bem?
E aquele senhor, convidou esta senhora a fazermos uma viagem. Onde?
Às Victoria Falls, são só as maiores cataratas de África, e fazem a fronteira entre Zâmbia e Zimbabué.
Nós iremos a partir da Zâmbia. Mais perfeito do que isso...
Na ponte de fronteira, podemos fazer bunjie jumping!!!
É verdade, aquele homem convidou-me a ir com ele fazer o maior bunjie jumping do mundo!
E eu? Claro que siiiiiiiiiiiiiiim! Sim, yes, igen, igen!

Bem por hoje tenho de ir dormir, mas hei-de voltar para deixar mais o que vos contar.
beijinho em todos e cada um

15.6.11

Entrega de testes

Eu: Vocês têm de fazer os vossos próprios apontamentos! Escrever por palavras vossas o que entenderam da aula.
Júlio (aluno): Ó professora, mas dê lá apontamentos para nós termos por onde estudar. Sem nada escrito no caderno é difícil estudarmos depois das aulas.
Eu: Querem apontamentos? Façam-nos vocês mesmos e se acharam que estão incompletos ou que algo não ficou bem explicado na vossa cabeça, podem sempre vir ter comigo e perguntar-me, as vezes que forem necessárias.
2 minutos depois....
Arlindo: Professora, será que então podia deixar-nos os seus apontamentos?
Eu: Ó Arlindo, tu não ouviste o que acabei de dizer ao Júlio? Tenho mesmo de me repetir ou explicar por outra palavras?
Arlindo: Ai professora entendi, sim. Mas cada um está a tentar a sua sorte.


E eu que os ature!
A sorte deles é que gosto de cada um assim mesmo =)

9.6.11

Quero-te, Apafej!

Querer é mais forte que desejar, pelo menos na nossa língua. Querer é querer ter, é ter de ter. Querer tem mesmo de ser. Na frase felicíssima que os Portugueses usam, "o que tem de ser tem muita força". Desejar tem menos. É condicional. Quem deseja, desejaria. Quem deseja, gostaria. Seria bom poder ter o que se deseja, mas o que se deseja não dá vontade de reter, se calhar porque são muitas as coisas que se desejam e não se pode ter todas ao mesmo tempo.
Querer é querer ter e guardar, é uma vontade de propriedade; enquanto desejar é querer conhecer e gozar, é uma vontade de posse. O querer diminui-nos, mas o desejar não. Sabemos que somos completos quando desejamos - desejamos alguém de igual para igual. Quando queremos é diferente - queremos alguém com a inferioridade de quem se sente incapacitado diante de quem parece omnipotente. O desejo é democrático, mas o querer é fascista.
O que desejamos, dava-nos jeito; o que queremos fez-nos mesmo falta. Mas tanto desejar como querer são muito fáceis. Ter, isto é, conseguir mesmo o que se quer é mais difícil. E reter o que se tem, guardando-o e continuando a querê-lo, tanto como se quis antes de se ter, é quase impossível. Há qualquer coisa que se passa entre o momento em que se quer e o momento em que se tem. O que é?
"Cada pessoa, - dizia Oscar Wilde, - acaba por matar a coisa que ama". Mata-a, se calhar, quando sente que a tem completamente. (...)
A verdade, triste, é que uma pessoa completa, a quem não falta nada, não é capaz de querer outra pessoa como deve ser. No momento em que se sente que tem o que quer, foi-lhe devolvida a parte que lhe fazia falta e passou a ter tudo em casa outra vez. Fica peneirenta, sente-se gente outra vez. É feliz, está satisfeita e deixou de ser inferior à sua maior necessidade. O ter destrói aquilo que o querer tinha de bonito. Uma necessidade ocupa mais o coração, durante mais tempo, que uma satisfação. Querer concentra a alma no que se quer, mas ter distrai-a. Nomeadamente, para outras coisas e outras pessoas que não se têm. (...)
in Os meus problemas,
De Miguel de Sousa Tavares
Apafej és Kisanya'm vagyunk. :)
Olá!! =)
Este post parece um bocadinho 'fora de mão' no meu blog.
Mas na realidade não está nem um pouco.
Acontece que estou a organizar a minha viagem até ao homem que me faz querer-lo todos os dias. Sempre.
Estamos a 1350km de distância. O que aqui se percorre em 2 dias de autocarro, com tudo a correr bem.
Se quiserem dar uma vista de olhos, a viagem é de Machava, Maputo, Moçambique até Thyolo, Blantyre, Malawi.
Vou bem acompanhada, com a Kate, e será uma enorme aventura para partilhar convosco. =)
Vá cruzem os dedos por mim.


'When you want something that you never had, you have to do something you've never done.'

Beijinho em todos =)
D. Kisanya'm P.

3.6.11

E esta, hein?


Juro-vos que é simplesmente um print screen do meu ambiente de trabalho.
Em Moçambique há Inverno, sim senhor.
É que já nem se pode dormir com as janelas abertas. :)

Sofia, com uma camisolinha mais quente no corpo.