31.7.11

Moamba, aquela bela província!

Parte I


Moamba, 18 de Julho a 28 de Agosto

A viagem:
70 pessoas em 2 autocarros com capacidade de 25 cada! Correu bem... Ninguém esperava viajar no conforto. E durante uma hora e pouco viajamos desde Machava até à Moamba, 50km em direcção ao interior, entre vários cânticos e gargalhadas.
E finalmente, dei de caras com o verdadeiro estilo de vida Moçambicano.
Há uma vida bem diferente aqui.
Tudo é diferente.
Os primeiros dias foram de absorção total. Tudo me espantava, apetecia-me tirar fotos de tudo e mais alguma coisa. Queria ser capaz de guardar uma imagem do que estou a viver.
As casas feitas em ‘matope’ e palhinha, as estradas de terra batida, as crianças a correr pelas ruas ora a transportar água e alimentos, ora a transportar uma outra criança às costas.
Todos super simpáticos, e todos querem tocar na pele da branca e nos cabelos da branca.
Querem ouvir a minha voz, o meu português.
Conheci também o estilo de vida dos meus alunos. Pois bem, quando cá cheguei deram-me a escolher entre ficar num quarto sozinha ou com as minhas alunas. Sendo que para eu ficar num quarto sozinha elas teriam de preencher mais os outros quartos.
Cada quarto tem 12 camas (em beliche) feitas de cimento, com umas esponjas que já viveram tempo demasiado, só de tocar ‘esfarelam’. Com uma mesinha na cabeceira e 4 gavetões no chão.
Então eu obviamente escolhi ficar com elas.
Para começar reparei que vinha muito mal apetrechada. Elas traziam baldes, almofadas, lençóis, mantas e bolachas, muitas bolachas. E eu trouxe roupa, produtos de higiene pessoal e o meu querido saco cama. Á medida que o primeiro dia foi passando, fui-me apercebendo de como estava bem enrascada.
Já depois do jantar, uma aluna, a Ana Paula, veio ter comigo com um lençol na mão, a dizer que eu não devia deitar-me naquele colchão. E elas nunca tinham visto um saco cama, nem sabiam bem como funcionava ao certo. Eu bem tentei explicar que se dorme dentro, mas para elas não fazia muito sentido e só queriam ver-me mesmo a dormir assim.
Para começar, a água da escola não é potável… eles chamam-lhe salubre, quando o que querem dizer é salgada. Portanto, no primeiro lanche os miúdos fizeram o sumo com essa água. Tinha um sabor que não consigo explicar. Não que fosse mal saborosa, simplesmente não era nem doce nem salgada. Era um sabor que nunca senti na vida. Depois de beber o sumo e comer pão com Jamo (geleia) vim a saber que aquela água era tal que não se devia beber.
Água que é racionada. Só abrem às 5.30 e ‘à tarde’… E mesmo nessas horas é preciso procurar bem quais são as torneiras onde está a sair água.. Aqui entra a parte dos baldes.
Na casa de banho não há água, só nessas torneiras que estão espalhadas pelo terreno da escola. Portanto, nós precisamos de transportar a água até à casa de banho e usar quer para ‘descarregar o autoclismo’, quer para tomar banho.
Se é para a sanita, mal o menos. Mas quando é para tomar banho, ai, ai, ai… É preciso escolher bem a torneira. Há a torneira do tanque que para ser sincera nunca me foi apresentada, e as outras. Da torneira do tanque sai água fria ‘de verdade’ e das outras sai água fria, ok, se for a meio da tarde está quase morna.
Experiência para a vida é acordar ir buscar um balde de água e ir tomar banho… Acho que nunca acordei tão rápido, fiquei desperta em 2 ou 3 canecas de água pela cabeça a baixo, cada caneca acompanhada de um guincho, pois está claro.
Prova do banho – superada! Já quase não guincho.
Agora olhando com olhos de ver… A questão da higiene tem muito mais o que se lhe diga. Quando não existe água para beber, quando temos de pensar em quanta água precisamos para o banho, quando temos de procurar água sempre que precisamos ir à casa de banho, não é tão simples assegurar a higiene.
Tivemos que começar a comprar água ‘doce’, 5Meticais cada bidão de 20litros, comprada aos vizinhos. Bidões que são transportados à cabeça pelas minha alunas.
AluNAS! Porque homem africano não transporta água ou pão. É falta de virilidade inquestionável.
Mesmo esta água doce não devia ser bebida sem ser desinfectada e purificada. Mas nos usamos perto de uns 100 a 120litros por dia, e não há tempo para o tratamento.
De modo que usamos para cozinhar e beber assim mesmo. Nos primeiros dias andamos com diarreia e com dores abdominais, mas agora parece que o organismo de cada um já se habituou.
Nota: Diarreia e necessidade de carregar água para a casa de banho sempre que necessário é uma missão praticamente impossível.
D.Jaque na prática :)

(to be continued...)

Cenas dos próximos capítulos:
Grávida na beira da estrada
Baratas
Histórias de vida delas
História de vida dos homens que conheci cá
Cicatrizes
Emergência hospitalar

1 comentário:

  1. Invejo a tua coragem. Penso tantas vezes em fazer voluntariado mas desisto quando penso no que tenho que abdicar, e reconheço que não conseguiria, vinha embora no 1º dia ;)

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