3.8.11

Desabafo

Ontem, recebi a notícia que não queria, que não deveria receber...
A companhia aérea não me deixa alterar o meu bilhete de avião, de maneira alguma.
Os meus planos de repente tornaram-se em pó.
Pó que me entrou nos olhos e os tornou tão secos que nem uma lágrima saiu.
Senti-me completamente derrotada. Fraca demais para me levantar da cadeira...
Fiquei vazia.
Lembram-se que vos contei que no fim da minha missão em Moçambique iria cruzar o país (1350km) até ao Sul do Malawi, para me encontrar com o homem que tanto espero. E assim ficar com ele e continuar a trabalhar até ao fim do projecto dele. Para acabar com esta loucura de vivermos longe um do outro, que foi decisão minha em Janeiro.
Ele apoiou-me no meu projecto de rumar sozinha até Moçambique, e é chegada a hora de o compensar por todo este tempo de apoio incondicional.
Há meses que ando a conjugar todos os pormenores, que nos levariam um ao outro.

Ontem recebi a notícia que impede tudo isso.
O bilhete de avião não pode ser alterado.
Pus em causa tudo...
Até que ponto vale a pena fazer o bem, de que vale afinal ser voluntário neste mundo em que tudo se move por dinheiro.
Eu não gosto de dinheiro, não entendo esta necessidade de tudo se mover com dinheiro.
Aqui... Os que cá chegam e vivem o que eu vivo diariamente, ficam a perceber que não há dinheiro que os americanos, europeus, asiáticos possam enviar para cá desde as suas límpidas vidas, que se compare ao trabalho de um voluntário que dá o corpo e a alma in loco!
Um voluntário não recebe dinheiro... e é isso que me move aqui. A ausência de dinheiro.
A vida acontece sem dinheiro. O trabalho que fazemos proporciona-nos o que precisamos para viver.
E dinheiro não é uma dessas necessidades. Mas ainda falta um passo de gigante para  mundo perceber isto.
Eu não quero dinheiro, o que preciso é de um bilhete de avião para regressar a casa no fim do meu trabalho.
E ontem recebi uma chapada para me relembrar que nasci branca, num mundo capitalista que coloca cifrão no final das frases, onde deveria estar o ponto final.

A mesma, com os olhos sujos de poeira

Daniela

5 comentários:

  1. Desculpa lá o que vou dizer: e que tal a ONG para a qual trabalhas abrir os cordões à bolsa?! é o mínimo que se espera.

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  2. Pois, Miss Piglet, mas não é o que eles acham...
    É uma relação unilateral de dádiva... Eu dou tudo e eles recebem. Ponto final.

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  3. tu não existes miúda! :) a vida vai-se encarregar de retribuir em dobro essa dádiva, tenho a certeza. bjs

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